sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Nem todos os jovens dizem “não tô nem aí”

Estava na fila do supermercado e fiquei intrigado com o que ouvi de três jovens que falavam sobre política. Um que aparentava 21 anos opinou que estudantes não devem ter participação na vida política do país. Outro, de igual idade, disse achar o mesmo. E o terceiro, uma garota de uns 17 anos, arrematou: “não tô nem aí pra esse assunto”.
Esse diálogo me levou a pensar que a alienação política não é privilégio dos jovens informatizados de hoje: nos anos 60 e 70 grande parte da juventude também era alienada, desinformada sobre a luta clandestina que se travava contra a ditadura militar que torturou e matou tantos outros igualmente jovens – estudantes e trabalhadores.
Hoje as preocupações são outras. O movimento estudantil dedica-se mais às causas imediatas e particulares – como a questão do passe escolar. Uma vez resolvidas as reivindicações, a mobilização se desmonta.
Após uma rápida reflexão, já menos assustado com a aberração opinativa dos três “nem aí” para as questões políticas, me ocorreu que, quando o momento exige, os jovens sempre “arregaçam as mangas” e partem para as lutas sociais. Foi assim, por exemplo, com os “caras-pintadas”, um movimento que em 1992 culminou com a queda do corrupto governo Collor.
A ocultação e manipulação dos fatos ao longo dos anos resultaram em uma imensa atrofia política entre os jovens em geral, um vazio que o restabelecimento da democracia ainda não conseguiu preencher. Sem perspectivas, não são poucos os que buscam uma fuga nas drogas e no álcool. O crack está envenenando a juventude em ritmo galopante.
Vivendo o conforto do avanço tecnológico (que, sem dúvida, representa um salto de qualidade para a humanidade), uma imensidão de jovens da classe média se enclausurou diante do computador e se afastou do convívio pessoal, deixando gradativamente de compartilhar divertimentos, problemas e soluções.
A equivocada superproteção de pais – a pretexto de “poupar” os filhos de sofrimentos e carências que os afligiram no período de ditadura – contribui para isolá-los e aliená-los ainda mais, exacerbando o egoísmo e arrefecendo a solidariedade.
Acomodados, sedentários, sem iniciativa, muitos preferem permanecer com idade cada vez mais avançada na casa dos pais. É crescente a quantidade de filhos que, mesmo após casados, fazem a opção de “fugir do mundo” sob a proteção do “seguro” manto da “ilha” natal.
Desmentindo os sofríveis argumentos daqueles três da fila do supermercado – que provavelmente passam horas solitárias diárias diante do computador -, jovens, em todo o mundo, prosseguem ativos na busca por dias melhores, seja defendendo o meio-ambiente, seja colocando-se à frente de tanques-de-guerra na China, seja reivindicando a legítima inclusão social, seja através da música e das artes em geral. Buscam educação, trabalho e dignidade.
No Brasil, os jovens marcaram forte presença nas campanhas do petróleo nos anos 50, na luta contra a ditadura nos anos 60 e 70, na reconstrução de entidades sindicais, estudantis e populares nos anos 80 e nas mobilizações que culminaram com a derrubada de Fernando Collor nos anos 90. Apesar do nocivo isolamento virtual, a juventude continua – em maior ou menor grau – a marcar sua presença nas batalhas sociais dos anos 2000.
Por outro lado, não é de agora que as gerações anteriores condenam a “alienação” das anteriores. Eis um exemplo clássico:

"Os jovens de hoje gostam do luxo, são mal comportados, desprezam a
autoridade, não têm respeito pelos mais velhos e passam o tempo a falar em vez
de trabalhar. Não se levantam quando um adulto chega, contradizem os pais,
apresentam-se em sociedade com enfeites estranhos, apressam-se a ir para a mesa, comem os acepipes, cruzam as pernas e tiranizam os seus mestres".

Tudo isso foi dito há mais de 400 anos a.C. pelo filósofo grego Sócrates.